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terça-feira, abril 23, 2024
ÁguaDestaque

Água tratada por osmose reversa ou outro sistema purificador

Este artigo traz experiências que podem auxiliar na economia deste fundamental recurso. Na semana passada, tratamos da qualidade da água potável. Agora falaremos sobre a obtenção de água purificada.

Para que se obtenha uma água purificada com a qualidade objetada e essa qualidade se estabilize ao longo de um ano, além de se conhecer com profundidade e extensão a água potável que alimentará um sistema purificador, é necessário que se estabeleça um perfeito dimensionamento quanto à qualidade (parâmetros físico-químicos e microbiológicos) e à quantidade a se utilizar, por hora, desta água. Um bom projeto tem que levar em consideração a qualidade e quantidade que entra e a qualidade e quantidade de água que deverá ser gerada por este sistema, acrescentando-se uma avaliação completa da sua robustez e da adequabilidade dos recursos que se dispõe para a permanente e correta manutenção, operação e desinfecção deste complexo.

As indústrias de medicamentos de uso humano e animal, de cosméticos e produtos para saúde, até por força regulatória da ANVISA e MAPA, com base nas Boas Práticas, executam um fundamental protocolo de “validação”. E é exatamente na busca do cumprimento dos requisitos deste protocolo de validação do sistema de água – Qualificação da Instalação, Qualificação da Operação e Qualificação do Desempenho – que se passa a ter a visão e o conhecimento do que realmente vem a ser a “adequabilidade de um meio para um fim” a que se destina.

É possível encontrar quem julgue que uma membrana de osmose reversa seja a última palavra em solução para purificação, aplicando-se até em filtração direta. Se observarmos melhor a história evolutiva das soluções de purificação de água para fins industriais, iremos constatar que a osmose reversa veio para substituir o bom e velho destilador. Mesmo que o destilador tem uma perda bem menor de água, a energia gasta para aquecimento e posterior resfriamento da água é considerável. Por outro lado, a osmose reversa tem um despejo constante de até 40% da água a tratar (concentrado) que às vezes é mandatória para a escolha de outro sistema de purificação. Olhando do lado de proteção ambiental, o destilador “queima” combustível e a osmose reversa despeja muita água.

Dentre vários problemas clássicos que se observa num complexo sistema de purificação ainda é comum a falta de visão lógica de que a filtração deverá, ou deveria, ser realizada por etapas – de retenção de partículas maiores para filtros seqüenciais às partículas menores – compondo um perfeito sistema de pré-tratamento, até se chegar à deionização e tratamento microbiológico.

A falta de visão estratégica ou a desconsideração de potenciais pontos críticos no momento de planejar e desenvolver o sistema de água deixa uma sequência de pontos críticos com potencial de autocontaminação, além de frequentes riscos ergométricos para o pessoal de manutenção do sistema e de coletas de amostras. Há pontos fisicamente inacessíveis, ou recobertos, que em prol da arquitetura de estética, dificultam a amostragem segura, onde a poeira do local é acidentalmente despejada no frasco de amostragem. Também se observa a existência de pontos de coletas instalados sob a proteção de armários de madeira, onde fungos e bactérias de estabelecem e proliferam continuamente.

Os pontos de uso ou de coletas mortos (dead-legs) destacados por partes da tubulação do anel (loop) da água purificada, cuja água não circula e não é trocada, figuram como potenciais causadores dos desvios em resultados bacteriológicos. Nestes pontos é comum a fixação das bactérias formadoras de biofilmes, de difícil remoção e que se convertem em endotoxinas bacterianas após procedimentos de desinfecção do sistema.

Se considerarmos que um sistema de tratamento e purificação de água, desde o pré-tratamento evolutivo até o polimento final com osmose reversa, esteja devidamente instalado e funcionando, então por que ainda se tem problemas de funcionamento e desempenho? O que ocorre que o sistema não se mantém estável ou não funciona como deveria? A(s) resposta(s) pode(m) vir de uma simples reflexão:

– Houve uma mudança na qualidade da água geradora, ou algum elemento desta água geradora que poderia ser crítico ao sistema tenha sido avaliado apenas uma vez, mas não foi elaborada uma curva de avaliação comportamental deste elemento. A exemplo da Sílica, que pode se converter em Sílica Coloidal, com aspecto de “gel”, que entope na entrada da membrana e provoca a formação de biofilme;

– Houve um trabalho meticuloso do Bário, que na sua forma pérfura trabalhou insistentemente até provocar pequenos furos na membrana da osmose reversa;

– Houve o desgaste prematuro do filtro de carvão, que passou a liberar fragmentos ou a proliferação demasiada de bactérias pela decloração da água e a rotina de manutenção e sanitização não observou isso ainda;

– Que apesar de haver uma quantidade de bactérias dentro do limite de aceitação normativa para essa água, ou até dos limites de alerta e ação, em momento algum alguém se preocupou em realizar ensaios de Identificação Bacteriana destes micoorganismos e descobrir que tinha em seu sistema foco(s) de Pseudomonas ou outros microorganismos do gênero formador de biofilmes. Quantas seriam as instituições que conhecem e gerem a biocarga de seus sistemas de água?

É importante destacarmos que a prática de se fazer pesquisa microbiana no sistema (Contagem e Identificação Bacteriana) é uma estratégia que auxilia de forma importante aos profissionais responsáveis pelo sistema de água. A constatação da presença de bactérias Gram Negativas no sistema pode ser demonstração clara de que, após um procedimento de desinfecção do sistema, será certa a presença de Endotoxinas Bacterianas por conta da ruptura da parede daquelas bactérias pelo processo de oxidação química ou física se por ozonização.

Se há Endotoxinas logo após o procedimento de desinfecção, uma coisa é certa: há bactérias Gram Negativas. E se a Endotoxina é tão crítica para uma água para injeção ou hemodiálise quanto uma bactéria patogênica , então o foco do trabalho deverá ser o conhecimento e a erradicação destas bactérias, ou, ao menos, o controle delas ao longo dos intervalos de desinfecção deste sistema.

Uma responsável e segura equipe da manutenção de sistema de água purificada deverá priorizar amostragens no momento antes de realizar a desinfecção. Pois um sistema com rotinas e procedimentos bem estabelecidos e cumpridos com rigor e competência deverá suportar a qualidade da água, em limites aceitáveis até o último dia antes da limpeza e desinfecção. Para tanto, a rotina de uso diário deverá auxiliar nessa manutenção propiciando a manutenção da qualidade.

Na semana que vem, a terceira e última parte deste artigo falará sobre  as oportunidades e riscos nas coletas e ensaios para controle da qualidade da água purificada.

Maximino Bernardes Neto Gerente comercial da Medlab – Laboratório de Análises
Colaboração: Rodolfo Cosentino – diretor da Giltec e colaborador técnico do Portal Boas Práticas

One thought on “Água tratada por osmose reversa ou outro sistema purificador

  • Luis Gustavo Berenguel

    Muito boa a matéria.
    Detalhe, para produção de água para injeção (WFI), a farmacopéia européia ainda estabelece que o modo de obtenção deve ser por meio de destilação. USP preconiza destilação ou processo de purificação igual/superior à destilação e JP, destilação ou osmose reversa/ultrafiltração.

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