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quinta-feira, abril 25, 2024
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Armadilhas luminosas adesivas: instrumento GMP eficaz para controle de insetos voadores

Para o controle efetivo de insetos voadores numa instalação alimentícia ou de produtos sensíveis, é necessário cautela e conhecimento. Não existe um único método, uma única forma, mas sim um conjunto de sistemas que podem diminuir consideravelmente a infestação de insetos numa instalação, seja alimentícia – de fármacos, embalagens ou cosméticos.

Há necessidade de uma conjugação de esforços no campo de conhecimento da entomologia e das áreas de Qualidade e Segurança do Alimento das empresas alimentícias e afins, para ter-se êxito em evitar a proliferação de moscas  em áreas de processamento, afinal existem mais de 90.000 espécies no mundo.

Historicamente, indústrias e população até toleravam insetos em áreas de produção, mas essa conivência pode tornar-se caro. Muitas pessoas não reclamam ou os comércios não relatavam problemas de contaminação por insetos, mas elas existem e são bastante graves. Presença de insetos vivos ou evidências de seus resíduos é item desclassificatório em auditorias Food Safety. Importante documentação da AIB International (American Institute of Baking) que especifica os requisitos de Controle Integrado de Pragas como dos mais extensos, dentro das normas consolidadas para Segurança Alimentar como HACCP.

O controle de pragas exercido pelas empresas prestadoras de serviço é um serviço digno de terapeutas do ambiente urbano. Outro especialista da América Latina, o argentino Carlos Bertomeu disse num evento em Posadas – Missiones a mais de 12 anos atrás: “A atividade de Controle de Pragas é a guardiã dos elementos básicos da vida humana – a casa, o alimento, a saúde e o conforto”. E insetos voadores principalmente moscas são problemas nesses 4 elementos.

Várias espécies podem atuar como vetores de inúmeros agentes na veiculação de mais de 100 agentes patogênicos:

Bactérias originadoras de febre tifóide, estafilocóccica, disenteria, salmonelose, tuberculose, lepra, conjuntivite, shiguelose, cólera, bouba, entre inúmeras outras doenças. Vírus de poliomelite, tracoma, hepatite, varíola, etc. Protozoários vários ou verminoses de teníase, helmintos, giárdia, cistos, amebíase, etc. Chega de nome feio! Prevenção sim, doenças não!

Insetos sinantrópicos – bem adaptados ao ambiente humano, esses dípteros tem metamorfose completa (ovo > larva > pupa > adulto) e características próprias únicas : sangue frio , sensibilidade aguçada para encontrar um melhor ambiente, captam odores a quilômetros de distância! Esses fatores precisam ser considerados na hora de se estudar a captura. Espécies saprófagas – que se alimentam de produtos decompostos, (família Calliphoridae) ditas varejeiras, disseminam doenças agindo como inoculadoras diretas ou transportadoras passivas. Espécies da família Muscidae incluem por exemplo a ‘doméstica’ e a dos ‘estábulos’. Abelhas (Apis mellifera) que também oferecem riscos, fazem parte de outra ordem, Hymenoptera.

A transmissão das doenças pelas moscas tanto é passiva ao adquirirem e carrearem mecanicamente agentes patogênicos nos pêlos das pernas e corpo, como ativa. A inoculação direta nesse caso é pela prosbóscida flexível (aparelho bucal sugador) pois a mosca regurgita saliva (contaminada) para dissolver partículas de alimento, ‘aspirando-as’ a seguir. Além disso, adquire e carreia nas superfícies os patógenos que também podem ser veiculados pelo hábito de defecar ao pousar numa superfície. Em HACCP é inadmissível!

Vento, luminosidade, temperatura, comida e água além da própria atração sexual são aspectos diretamente ligados aos insetos voadores. Vejamos como:

Vento: Ajuda os insetos a se dispersarem mais rápido e para mais longe em busca de alimentação e reprodução.

Autonomia: Por si próprias voam 500 metros, algumas espécies com ‘vento de cauda’ podem chegar a 2 quilômetros. Pousadas levam contaminação onde for.

Luz: Qualquer luminosidade as atrai, principalmente a UV. Lâmpadas usuais de ‘comprimento de onda’ diferenciado como as ‘amareladas’ atraem menos.

Temperatura: Buscam um ambiente favorável de 20 a 35 ºC para reprodução, associado com umidade e fonte de alimento. Ideal para elas em 28 ºC.

Visão: Olhos compostos de até 4.000 pequeníssimas lentes hexagonais permitem campo de observação em quase 360º num pico de visão na faixa ultra-violeta.

Comida e água: Principal atrativo, devem-se controlar lixeiras,  abatedouros, esgoto, açougues / peixarias, matéria orgânica fermentada, esterco, açúcares, aterros, etc.

Reprodução: Uma mosca atrai pelo menos, mais 20 “companheiras” no instinto natural de preservação da espécie. O ciclo ovo >adulto é de +- 1 semana!

Crescimento: Na primavera / verão uma única mosca pode gerar 28 bilhões de descendentes em 6 meses! A vida média é de 1 a 3 meses conforme a espécie.

Evidências: Marcas claras nas superfícies são regurgitações, marcas escuras são excrementos. Ao se alimentarem precisam expelir parte do conteúdo ‘estomacal’.

Dentre outras científicas classificações entomológicas, vamos dividir 2 básicos grupos de moscas: Noturnas e Diurnas, que diferem nos seus “objetivos”: A noturna busca a priori energia > luz, enquanto a diurna busca comida e água.

Quando insetos voam, procuram luminosidade. Esse é o segredo e artifício para as Armadilhas Luminosas. Na procura de alimento, néctar, etc, são atraídos por reflexos de luz UV-A componente primordial para a visão das moscas, numa ‘onda’ , chamada banda A, de espectro que corresponde a cerca de 320 / 380 nm (nanômetros). Um nanômetro equivale a um comprimento de 0,000000001 ou 1×10 –9 metros. Os insetos respondem diferentemente aos sinais de radiação. Radiações selecionadas dessa energia numa onda exata da resposta dada pelo espectro ocular dos insetos aumentam a atração (ideal em 353 nm) – e captura!

A espécie cosmopolita (Musca domestica) apesar de buscar primordialmente alimento também é atraída pela emissão UV. Pode sair de um ambiente mais claro (havendo Sol – há emissão de UV muito maior) para um local mais escuro, mas por isso as armadilhas são colocadas perto das entradas (portas e janelas), pois 80% dos insetos pousam diretamente na armadilha, guiados pelo sinal visual. Já a noturna por ser atraída pela energia primeiro, é atraída por refletores de luz de vapor de mercúrio presentes nas entradas e estacionamentos, direcionados fora da planta. Como toda mosca apresenta imensa capacidade de encontrar frestas, buracos, até mesmo numa rápida abertura de portas elas acabam adentrando e daí surgem os altos riscos de contaminação. As Armadilhas nesse caso são colocadas pouco mais elevadas, mas nos mesmo locais (portas, acessos e janelas) pois serão os primeiros pontos de atração de luz. Outro detalhe óbvio é que o equipamento é áplicado em ambientes com certeza fechados, no intuito de atrair e eliminar os insetos voadores ali presentes. Uma instalação mal posicionada poderá atrair pragas externas para dentro, se simplesmente existirem frestas ou portas / janelas abertas! Prevenção básica com GMP.

Além desses pontos também é absolutamente indispensável ressaltar o quesito higiene: recomendações de Saúde Pública, educação dos funcionários, produtos químicos autorizados e barreiras físicas, todos juntos formam um conjunto, um sistema que corretamente aplicado eliminará ‘quase’ 100%, mas ‘nunca’ 100 %. O olfato apurado das moscas requer muitas vêzes o emprego de câmaras frias para o lixo! E isso precisa ser conscientizado nos projetos alimentícios, onde o budget é cada vez mais reduzido. Adotar na indústria alimentícia e afins estratégias de Qualidade e Higiene junto com exclusão de focos é primordial nessa luta contínua contra insetos voadores que põe em risco a Segurança dos Alimentos conforme preconiza GMP, HACCP e FSSC.

Cecília Bertomeu, da Calbert Protection, da Argentina frisou bem numa reunião NPMA (National Pest Management Association) em Nashville : “A experiência e a capacitação provêm das soluções corretas para cada problema – somos conscientes de que se o custo da capacitação e treinamento é alto, é muito mais alto o custo da ignorância! Seremos capazes de realizar serviços de Qualidade sempre e quando tivermos Qualidade na mente e nas mãos”. Todos deveriam ter essa ótica como ética de trabalho.

As Armadilhas luminosas emitem luz UV que significa ‘além do violeta’, irradiam radiação UV-A (a escala de ondas de comprimento é subdividida em 3 bandas: A, B e C) numa escala de 400 nm (faixa 315/400). Essa radiação eletromagnética invisível ao olho humano, em relação ao UV emitido pelo Sol não chega nem a uma 10a parte dependendo da região do planeta, mas é infinitamente inferior, portanto inofensivo ao ser humano.

O brilho do bulbo, área de atuação, luminosidade concorrente externa, posicionamento da armadilha e tremulações da freqüência de luz (em Hz – ciclos p/seg.) tem papel importante na eficácia de atração. Armadilhas luminosas fazem parte da solução no problema de moscas e demais insetos voadores e têm  contribuição grande, pois controlam sem contaminação – o que é fundamental. A armadilha luminosa adesiva é eficaz na instalação. A armadilha dita elétrica porém pode até ser eficiente, mas traz risco da contaminação em áreas de alimentação pelos fragmentos espalhados de insetos eletrocutados!  Armadilhas com lâmpadas UV contribuem num sistema eficaz de Controle Integrado de Pragas, exigido pelas normas GMP, HACCP e FSSC (ISO 22.000 + PAS 220).

Características das armadilhas luminosas
Existem dois tipos de armadilhas luminosas para insetos voadores:

A ) Armadilhas de ELETROCUSSÃO (choque elétrico)

B ) Armadilhas ADESIVAS (refil com Adesivo)

A principal diferença é de como matam os insetos atraídos pela fonte de luz interna dos aparelhos.

As Armadilhas de Eletrocussão (proibidas em ambientes alimentícios)  matam os insetos com descarga elétrica quando eles passam voando entre as grades de alta amperagem que se encontram no interior da armadilha, ao lado das lâmpadas. Ao entrar em contato com a grade, a corrente elétrica passa pelo inseto , matando-o. O inseto e suas partes são recolhidos em uma bandeja, que se encontra abaixo das grades de choque. Algumas vezes os insetos ao receberem a descarga elétrica, são ‘explodidos’, fragmentados e arremessados para fora da bandeja da armadilha a uma distância de até 2 metros, por isso é proibido utilizar estas Armadilhas de Eletrocussão  em áreas de produção de alimentos ou outros setores sensíveis como fármacos, embalagens e cosméticos.

As Armadilhas Adesivas capturam os insetos em uma placa adesiva a base de polímeros ou polibutenos / poliuretanos, onde morrem rapidamente. Os insetos são atraídos para uma área ‘confortável’ nas armadilhas, com temperatura agradável que os estimulam a voar (existem até com desenhos de outras moscas)  e descansar, quando então são capturados nessa placa adesiva. É descartável, devendo ser substituído o refil  a cada 15 ou 25 dias, dependendo da intensidade de infestação de insetos (a luz UV com o tempo altera a força de coesão do adesivo). São de fácil troca e possibilitam serem guardadas para registro de capturas, no monitoramento das espécies e quantificação de insetos mortos.

Os bons modelos de Armadilhas Adesivas possuem uma placa acrílica interna inclinada, o que as mantém mais limpas e também protegidas da exposição da lâmpada, atendendo ‘política de vidros’.

Outro aspecto a ser destacado dentro dos atuais padrões GMP é o emprego nas  armadilhas, de lâmpadas com revestimento plástico, que as protege de quebras. Existem equipamentos leves em aço ixox, com lâmpadas protegidas. Ressalta-se o controle de vidros (política de vidros e plásticos duros) numa instalação alimentícia que é cada vez mais rigoroso.

As Lâmpadas Fluorescentes por sua vez (UV-A) diferem das lâmpadas comuns na composição de fósforo usado. Este fósforo irradia a maior parte de sua energia na região ultravioleta. Esta camada de fósforo se perde gradativamente ao longo das 5.000 hs de uso e quando isto ocorre, a quantidade de luz ultravioleta (UV-A) emitida é insuficiente para atrair insetos e as lâmpadas continuarão funcionando, mas simplesmente emitindo luz normal! As lâmpadas perdem 10% de seu fluxo luminoso nas 100 primeiras horas de uso acesas 24 hs e com 8, 9 meses seu fluxo luminoso estará em torno de 20% a 25%, quando se é necessária a troca. A checagem da intensidade de emissão  W /cm2, de UV-A para verificar a eficiência de atratividade é feita mensalmente com equipamento chamado radiômetro, dentro dos planos de auditoria GMP / HACCP.

Importante é verificar se o equipamento a ser adotado atende as exigências no quesito segurança elétrica, conforme o padrão internacional IEC 60335-2-59. Fabricantes que detém sistema interno de Qualidade ISO 9001 são bem mais confiáveis em seus projetos e serviços e atendem a rastreabilidade auditada nos planos GMP, HACCP e FSSC.

Aplicações das Armadilhas Luminosas
As Armadilhas Adesivas são empregadas em todos os locais onde outros recursos como Armadilhas de Eletrocussão (banidas pela Vigilância Sanitária) e inseticidas convencionais não são recomendadas pelo risco de contaminar os alimentos.

São usadas em todos os locais que se concentram insetos voadores como áreas de manipulação, produção e consumação de alimentos, bem como em setores de armazenagem, recebimento e expedição de materiais.

Muitos são os locais de uso das Armadilhas Luminosas Adesivas, porém os técnicos deverão achar aqueles que melhor ajustem às suas necessidades específicas. Cada caso requererá ajustes conforme as variáveis da situação …

Da mesma forma que na teoria dos obstáculos na microbiologia em que emprega a sinergia sucessiva de pH, aW e ºC para redução de contagem de bactérias, no campo do controle de insetos alados a somatória de telas (barreiras), redução de temperatura (ambiente), higiene (GMP), controle de lixo (exclusão de fontes) e armadilhas luminosas (captura) precisa ser planificada.

Algumas recomendações nessa estratégia:

* As Armadilhas Luminosas devem ser colocadas evitando incidência direta de outras fontes de luz concorrentes, outras lâmpadas como fluorescentes / incandescentes e luz solar. Deve existir contraste de luz para aumentar a atração.

* Em locais de manipulação de alimentos ou quaisquer ambientes especiais, colocar Armadilhas Luminosas óbvio não em cima de áreas de trabalho,  mas ao redor, atraindo os insetos voadores para fora do ambiente de risco e evitando que eventualmente caiam fragmentos justamente em áreas limpas.

* Armadilhas Luminosas são instaladas em ambientes fechados para capturar os insetos desse ambiente, área aberta sempre terá mais insetos atraídos do exterior.

* Colocar Armadilhas Luminosas em uma posição que possam capturar os insetos por onde normalmente adentram, como portas, acessos, antecâmaras  e janelas.

* Não instale Armadilhas Luminosas em locais onde haja pó que possa aderir no refil adesivo, diminuindo sua ‘pegajosidade’.

* O local escolhido deve também possibilitar fácil manutenção, limpeza, inspeções e monitoramento, troca do refil, etc. Existem bons modelos para cantos verticais.

* Não instale Armadilhas Luminosas em locais com possibilidade de alta umidade, que possa afetar a placa adesiva e o equipamento.

* Instalar as Armadilhas  Luminosas a uma altura entre 1,50 a 1,80 m. do chão, existem até suportes móveis para ajustar a altura do aparelho a 2,5 metros.

* Limpeza periódica das lâmpadas (pó e sujidades) é necessária, bem como o monitoramento nas auditorias da intensidade de UV-A emitida.

Consulte sempre também um especialista em Higiene – GMP na sugestão de ações preventivas / corretivas para reduzir infestação de insetos voadores.

Pense nisso!

Prof. José Carlos Giordano – JCG Assessoria em Higiene e Qualidade
umbrellagmp@terra.com.br
www.jcgassessoria.com.br

Drª Juliana Speridião da Silva
Médica Veterinária Perita Judicial

Referências:

Food Protection and Flying Insect Control
NPCA Pest Management 1988 Convention Nashville

Aspectos bioecológicos e manejo populacional de moscas
Copersucar Cadernos Técnicos serie Melhoramentos n. 216 CTC Piracicaba – SP 1989

Controle de moscas em usinas de açúcar e álcool
Ciba Geigy química Divisão Saúde Animal

www.pestline.com.br
www.ultralight.com.br

Brasil, leis, Portaria 368 04 set. 1997 Diario Oficial da União
Brasil, leis, Portaria 326 30 jul. 1997  Diario Oficial da União

Brasil, ANVISA Resolução RDC 275. Regulamento técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos estabelecimentos produtores / industrializadores de alimentos. out. 2002

Brasil, ANVISA Resolução RDC 216. Regulamento técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. 2004
Soc. Bras. de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Manual de Boas Práticas de Fabricação para empresas de alimentos, Campinas – SP, Profiqua, 2000

Soc. Bras. de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Manual de Controle Integrado de Pragas, Campinas – SP Profiqua, 2003
ABNT NBR 15.635 Serviços de Alimentação – Requisitos de Boas Práticas Higiênico-sanitárias e Controles operacionais essenciais, nov. 2008

Las plagas de la Salud Pública – Ina vision integral para su control urbano
Brenda Junin – Agrevo Buenos Aires 1998

Complete Guide to Pest Control. George W. Were – Arizona University
Thomsom Publications California 1980

Pest Control Operations – Truman’s Scientific Guide
Purdue University Indiana 1999

Foto: Divulgação Genus

2 thoughts on “Armadilhas luminosas adesivas: instrumento GMP eficaz para controle de insetos voadores

  • Flávia

    Adorei a materia…. Otima….

  • André Oliveira de Freitas

    NA APROXIMAÇÃO HUMANA DAS ARMADILHAS DE ELETROCUSSÃO PODER SER PREJUDICIAL A SAÚDE. EXEMPLO PROVOCA QUEIMADURAS NA PELE E OLHOS???

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