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segunda-feira, abril 29, 2024
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Especialista destaca desafios do processo de validação

Nossa equipe de reportagem  conversou com Luis Gustavo Berenguel, analista de validação da Libbs Farmacêutica e colaborador técnico do Portal Boas Práticas.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                           A validação de processo é, de acordo com a definição da Anvisa, ato documentado que atesta que qualquer procedimento, processo, equipamento, material, operação ou sistema realmente conduza aos resultados esperados. Na teoria,  trata-se de uma definição simples e objetiva. Na prática, no entanto, traz uma série de dúvidas e desafios.

Luis Gustavo Berenguel é analista de validação da Libbs Farmacêutica
Luis Gustavo Berenguel é analista de validação da Libbs Farmacêutica

É sobre esse assunto que o Portal Boas Práticas trata com o analista de validação da Libbs Farmacêutica, Luis Gustavo Berenguel.  O analista possui larga experiência profissional em indústria farmacêutica e farmoquímica, tendo atuado nas áreas de Controle da Qualidade, Produção, Tecnologia Industrial e Garantia da Qualidade. Participa de auditorias de BPF, em auditorias de órgãos sanitários nacionais e internacionais e em auditorias de clientes. Além disso, possui conhecimentos estatísticos aplicados a controles e melhorias de processos.

Nesta entrevista, Berenguel fala sobre os principais desafios  encontrados durante o trabalho de validação de processos produtivos, ressalta as vantagens que a atividade traz para o setor e  destaca a legislação sobre o assunto.

Confira.

Quais os principais problemas/desafios comumente encontrados durante o trabalho de validação (processos produtivos, limpeza, etc)  com vistas à adequação às normas de GMP?

Regra geral, como em qualquer atividade que requer o envolvimento de toda a empresa, a constituição de um comitê de validação multidisciplinar, autônomo, atuante e alinhado aos objetivos da política de validação se faz como desafio inicial de todo trabalho proposto neste sentido. As atividades de validação causam sempre grande impacto à rotina de todos os setores envolvidos diretamente – ou não – à condução e execução das mesmas, assim, o comprometimento de todos é ponto passivo para o cumprimento de toda a demanda de trabalho gerada.

Tecnicamente, isto é, no decorrer da execução da validação, grande parcela dos problemas está associada à incorreta/incompleta avaliação do objeto foco da validação, por exemplo, por meio de uma análise de riscos extremamente detalhada e avaliada por equipe de profissionais dotados da devida competência. Falhas no atendimento aos critérios de aceitação pré-definidos, testes mal planejados, mau dimensionamento de recursos, podem ser citados como frutos de uma análise de risco inexistente ou que não tenha sido elaborada a contento.

Outro ponto que frequentemente permeia situações de não conformidade está associado à tratativa dos desvios ocorridos/observados durante a execução de atividades de validação. A correta condução da investigação, aliada ao delineamento de um plano de ação eficaz, constitui-se como tarefas que serão positivamente avaliadas em auditorias.

 A validação na indústria farmacêutica gera quais vantagens para empresas do setor?

Muito mais do que o cumprimento de diretrizes regulatórias, o que é sabidamente exigido nas inspeções de certificação de boas práticas, a realização de estudos de validação agrega grande conhecimento dos processos, proporciona possibilidades de otimização e melhorias, elevando o grau de maturidade dos envolvidos e do sistema da qualidade como um todo. Todo esse foco, que não regulatório, em muitos casos, não é devidamente abordado atribuindo à validação apenas o ônus de seu impacto à rotina da produção, relegando ganhos consideráveis aos processos e negócios da companhia.

Quais as principais atividades/comprovações requeridas para as seguintes validações:

a)      Validação de processos produtivos

– Elaboração de análise de riscos do processo para correta determinação do escopo e extensão dos trabalhos de validação a serem executados (definição do plano de amostragem);

– Elaboração e aprovação do protocolo de validação anteriormente ao início do acompanhamento dos lotes (definição dos critérios de aceitação e todo detalhamento da condução da validação);

– Acompanhamento da quantidade de lotes especificada no protocolo, com registro e avaliação de todos os parâmetros críticos ao processo bem como dos resultados de controles em processo e de amostras adicionais requeridas pela validação (ainda se utiliza o acompanhamento de 3 lotes subsequentes, mas, novos guias já propõem uma definição racional desse número de lotes a ser acompanhado);

– Elaboração de um relatório final, contemplando e sumarizando todos os dados obtidos na validação (inclusive citando possíveis não conformidades relacionadas) e dando um parecer quanto ao processo estudado: validado / não validado.

b) Validação de limpeza

– Elaboração da análise de riscos da limpeza a ser validada, contemplando todas as situações possíveis que possam apresentar falhas ou dificuldades na execução das atividades de validação (definição do plano de amostragem);

– Elaboração e aprovação do protocolo de validação anteriormente ao início do acompanhamento dos lotes (definição dos critérios de aceitação e todo detalhamento da condução da validação);

– Acompanhamento da quantidade de lotes especificada no protocolo, com registro e avaliação de todos os parâmetros críticos ao processo de limpeza bem como dos resultados das amostras requeridas pela validação (como no caso da validação de processo, ainda se utiliza a abordagem de 3 lotes subsequentes – no mínimo);

– Elaboração de um relatório final, contemplando e sumarizando todos os dados obtidos na validação (inclusive citando possíveis não conformidades relacionadas) e dando um parecer quanto ao procedimento estudado: validado / não validado.

c) Validação de sistemas computadorizados

– Elaboração do inventário de sistemas computadorizados da empresa (análise de impacto GxP dos softwares/aplicativos);

– Elaboração da análise de riscos dos sistemas computadorizados considerados críticos;

– Definição da especificação de requisitos do usuário, especificação funcional, desenho do software, especificação técnica de hardware envolvido;

– Elaboração dos protocolos de qualificação de instalação (IQ), operação (OQ), e desempenho (PQ) e da matriz de rastreabilidade;

– Execução dos testes definidos com registro e avaliação de todos os parâmetros críticos aos sistemas avaliados;

– Elaboração de um relatório final, contemplando e sumarizando todos os dados obtidos na validação (inclusive citando possíveis não conformidades relacionadas) e dando um parecer quanto aos sistemas computadorizados estudado: validado / não validado.

d) Validação térmica

– Elaboração da análise de riscos relacionada ao processo térmico (armazenamento, incubação, esterilização) a ser estudado, mapeando, como nas demais, pontos com possibilidades de falhas;

– Elaboração e aprovação do protocolo de validação anteriormente ao início do acompanhamento do processo a ser validado (definição dos pontos a serem monitorados, testes a serem executados, critérios de aceitação  e todos os demais detalhes);

– Acompanhamento da corrida definida (por exemplo, 24 horas de monitoramento, 1 ciclo de esterilização) com registro e avaliação de todos os parâmetros críticos ao processo em estudo;

– Elaboração de um relatório final, contemplando e sumarizando todos os dados obtidos na validação (inclusive citando possíveis não conformidades relacionadas) e dando um parecer quanto ao processo estudado: validado / não validado.

e) Validação analítica

– Elaboração da análise de riscos relacionada à metodologia a ser estudada definindo pontos com possibilidades de falhas.

– Elaboração e aprovação do protocolo de validação anteriormente ao início do execução do método ser validado (definição dos principais parâmetros, testes a serem executados, critérios de aceitação  e todos os demais detalhes);

– Acompanhamento do estudo definido com registro e avaliação de todos os parâmetros críticos à metodologia em questão;

– Elaboração de um relatório final, contemplando e sumarizando todos os dados obtidos na validação (inclusive citando possíveis não conformidades relacionadas) e dando um parecer quanto ao método estudado: validado / não validado.

 O que é o Plano Mestre de Validação, quando deve ser elaborado e o que consta nesse documento?

O Plano Mestre de Validação (PMV) é o documento máximo que definirá toda a política de validação a ser adotada pela empresa, ou seja, é onde se encontram as diretrizes gerais a serem aplicadas na condução dos estudos de validação. O PMV deve especificar, portanto, o que será passível de validação, qual abordagem deverá ser empregada nos estudos, quais outros documentos servirão de suporte para a execução e registros das atividades relacionadas à validação e, por fim, quando e como proceder no caso de revalidação, definindo critérios (por exemplo, a partir de um controle de mudanças),  periodicidade para tal e um cronograma (nesse caso, tanto para as validações quanto para as revalidações). Sua elaboração deve preceder, portanto, o início de todo e qualquer trabalho atrelado à validação, para que, desta forma, a política definida seja de conhecimento geral na empresa.

 Qual a importância do Protocolo de Validação?

É no Protocolo de Validação que o estudo a ser realizado vai ser devidamente detalhado, apontando o objetivo e escopo da validação em questão, definindo os responsáveis pela revisão dos documentos envolvidos e condução das atividades, determinando quais avaliações/testes deverão ser aplicados, bem como os critérios de aceitação a serem atingidos. Este documento contempla, ainda, como registrar as informações coletadas, qual tratativa aplicar aos possíveis desvios ocorridos e como e/ou quais demais documentos do sistema da qualidade estão relacionados com a validação para o qual tal protocolo foi definido. Importante destacar que o mesmo deve ser aprovado antes do início da execução da validação.

Quando uma empresa é inspecionada por órgãos reguladores, quais os principais documentos são solicitados?

No que tange à validação, os principais documentos solicitados são, em geral, o PMV, protocolos e relatórios de validação e demais documentos de suporte relacionados aos trabalhos de validação, como por exemplo, procedimentos operacionais padrão, análises de risco, análise de impacto BPx (validação de sistemas), matrizes de avaliação de criticidade (validação de limpeza).

Resumidamente, o que diz a legislação diz sobre o processo de validação?

Como parte essencial das BPF, a validação se constitui como importante ferramenta para garantia de que produtos fabricados por meio de processos validados consistentemente atendam as especificações pré-determinadas tornando tal processo confiável para o fornecimento de produtos para saúde. É um ato, portanto, que deve ser devidamente documentado, racionalmente baseado por meio de uma análise de riscos e constantemente monitorado para que seja mantido o status de validado do processo em questão.

Redação – Portal Boas Práticas

6 thoughts on “Especialista destaca desafios do processo de validação

  • Parabéns, entrevista de suma importância.

  • paulo gibellini

    Parabens pela entrevista! Trabalho com garantia da qualidade na indústria farmacêutica e achei muito enriquecedora!

  • Daniel Filipe Pereira

    Muito boa entrevista. Parabéns Gustavo!

  • Carlos Fleming

    É sempre um grande desafio o processo de Validação, mas muito importante o comitê multidisciplinar e principalmente autônoma. Parabéns pela entrevista

  • Adriana Moreira

    Parabéns Gustavo pela ótima entrevista!

  • Douglas Darmani Marques Lima

    Bom dia.

    Eu li um artigo seu, Especialista destaca desafios do processo de validação, e gostaria de conversar um pouco sobre o assunto.
    Eu sou analista de manutenção na Novo Nordisk, e estou cursando pós em engenharia da manutenção.
    Eu estou com algumas dúvidas sobre um procedimento que realizamos chamado PSE – Periodic Evalution System, que tem como objetivo avaliar anualmente todos os aspectos relacionados a um sistema/equipamento, como manutenções, alterações, não conformidades entre outros. São 11 pontos analisados no total e o objetivo final é atestar se dentro deste periodo o estado validado do equipamento está mantido.

    Gostaria de saber se existe este tipo de análise documentada em outras empresas, e a forma de como é feita. Qual o nome é dado e se tem referências externas, livros ou artigos. Tenho buscado mas com este nome ou definição não tenho encontrado muita coisa que me auxilie.
    Seria possível conversarmos um pouco sobre o assunto?

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