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terça-feira, abril 23, 2024
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Como as políticas do novo governo afetarão o segmento industrial?

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a produção industrial brasileira fechou o ano de 2018 com um crescimento de 1,1%, segundo ano de expansão depois de 3 anos de queda. Apesar de ser um resultado positivo, porém, é preciso considerar que 2017 registrou um crescimento de 2,5%, ou seja, houve desaceleração da produção das indústrias no ano passado.

E daqui em diante? Quais impactos são esperados para a indústria com o novo governo de Jair Bolsonaro? Confira nosso post e entenda como as mudanças na política podem afetar esse mercado e as perspectivas para o segmento.

 

Como tem sido o desempenho do setor industrial nos últimos anos?

Os dados do IBGE apontam o crescimento da indústria brasileira, principalmente em 2017. Em 2018, também foi registrado um crescimento, mas, como dissemos, inferior ao do ano anterior.

“A indústria vem se recuperando, mas a passos lentos. Depois daquele período de bastante desaceleração de 2014 a 2016, houve um crescimento nos últimos anos”, comenta Bruno Pasquarelli, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Carlos (UFSCar) e professor da Universidade do Sagrado Coração (USC).

Em 2018, explica o professor, houve uma desaceleração em relação a 2017 por conta da incerteza do período eleitoral, da retração do mercado exterior e da greve dos caminhoneiros. “Não afetou todos os setores da indústria. O automobilístico, por exemplo, é um dos que conseguiram crescer”, ressalta.

 

Quais políticas previstas pelo presidente eleito podem afetar as indústrias?

Durante o período eleitoral, não foi possível saber com clareza o posicionamento do governo Bolsonaro em relação à política industrial. “O que a gente pôde entender desse início é essa tentativa de dar um maior dinamismo por meio de privatizações, mas o governo ainda não deixou claro que tipo de privatização. Um segundo fator foi a redução de impostos e de juros, mas também não está muito claro que tipo de linha eles vão seguir”, afirma Pasquarelli.

Além disso, há ainda um fator externo — a questão do dumping (liberalização comercial), que influencia muito o segmento industrial. “Esse setor é mais favorável a barreiras protecionistas, justamente para desenvolver a indústria nacional. O novo governo Bolsonaro tem tido alguns indicativos de que talvez vá procurar uma maior liberalização comercial, ou seja, tirar alguns impostos, mas isso a gente precisa ver no decorrer do tempo”, complementa.

 

Quais impactos são esperados?

Duas questões que influenciam o segmento industrial são a nova reforma trabalhista e a da Previdência. “Sabemos que o Estado gasta muito com previdência. Estima-se que ultrapassa 50% das despesas da União, e, sem uma reforma, esses gastos chegarão à casa dos 80% das despesas públicas daqui a 10 anos. Esse rombo afeta toda a capacidade de investir e de confiança do investidor”, destaca o professor.

 

Aumento da competitividade

A redução de impostos está ligada à competitividade. Segundo Pasquarelli, conforme há uma redução de imposto para algum segmento, a função é sempre aumentar competitividade diante de uma desvalorização do real frente ao dólar e também do crescimento da importação.

“Você reduz o imposto em virtude da entrada de produtos no Brasil, e isso faz com que a indústria se torne mais competitiva — tanto no plano interno quanto no externo. A ideia é esta: diminuição de imposto para que nossa empresa tenha mais condições de competir com a empresa de fora, que está colocando produtos no Brasil por um preço mais barato por conta de alguns mecanismos regulados, como dumping“, exemplifica.

 

Barreiras comerciais

O presidente eleito uniu as pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior. “Essa ideia de o Ministério da Fazenda ser responsável pelo Ministério da Indústria e Comércio Exterior é muito emblemática. Precisamos entender como vai funcionar daqui para frente”, diz o professor.

Alguns membros do governo querem promover uma maior liberalização do setor, ou seja, tirar algumas barreiras comerciais para incentivar a entrada de produtos mais baratos no Brasil. Entretanto, outros setores querem colocar algumas barreiras para alavancar essa industrialização do país.

O aumento de barreiras vai dar um maior dinamismo para a indústria nacional. Já se essas barreiras forem retiradas para promover uma maior liberalização, o resultado será a entrada de produtos estrangeiros mais baratos. “Essa última medida é boa para a população, mas não tão boa para as indústrias nacionais. Temos que esperar um pouco esses primeiros movimentos para ver como vai ser essa articulação entre os ministérios”, comenta Pasquarelli.

 

Como ficam as perspectivas para o setor industrial com essas mudanças?

De acordo com Pasquarelli, ainda é cedo para fazer previsões. “Antes de ser eleito, não houve clareza quanto a quais seriam as posições econômicas e políticas que o governo iria tomar. Não se pode pensar o governo apenas na figura do presidente, existem vários atores importantes nesse processo. Nosso papel é entender como eles vão dialogar.”

Ainda é preciso esperar um pouco para saber quais serão os próximos passos, ou seja, quais medidas de fato serão tomadas. “A reforma da Previdência depende do Legislativo e da articulação do governo. Já em relação à liberalização comercial, enquanto Paulo Guedes quer fazer, outros setores não querem. O Ministério das Relações Exteriores tem um papel importante também nessas negociações”, comenta o professor.

A questão central para os próximos anos, enfatiza Pasquarelli, é diminuir o desemprego. “Isso está ligado ao aumento da competitividade industrial. Outra questão são os juros e os impostos. A terceira é a Previdência. Enquanto o Estado estiver atolado nessa questão da dívida pública com a Previdência, não vai conseguir atrair capital estrangeiro”, finaliza.

Ainda há muitas dúvidas sobre como será o desempenho do segmento industrial com a mudança de governo. O que se vê são muitas articulações, mescla de ministérios e muitos pontos que ainda não foram definidos. Ainda será preciso esperar pelos próximos movimentos.

 

Fonte: Talk Science

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