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sexta-feira, abril 19, 2024
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Entrevista: biólogo fala sobre o controle de pragas nas indústrias

A equipe de reportagem do Portal Boas Práticas conversou com Francisco Andrade do Carmo Jr., biólogo com 19 anos de experiência na área.

 

 

As indústrias farmacêuticas normalmente são locais muito limpos, porém, se não houver cuidado também podem se tornar ambientes propícios para o aparecimento de pragas, desde que ocorram falhas no sistema de prevenção.

Nossa equipe de reportagem conversou sobre esse assunto com  Francisco Andrade do Carmo Jr., técnico responsável da Tecnomad e colaborador técnico do Portal. Formado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP), Carmo Jr. é especialista em controle de pragas, com experiência de 19 anos na área.

O biólogo fala sobre temas como as características de um programa de monitoramento e manutenção, as áreas críticas para controle de pragas e as barreiras físicas, armadilhas e agentes químicos que devem ser utilizados

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Francisco Andrade do Carmo Jr.

Confira.

Quais as etapas do Controle Integrado de Pragas?

O controle integrado de pragas é um procedimento que preconiza a prevenção, usando produtos químicos apenas quando as outras medidas não estiverem dando o resultado desejado. É uma metodologia usada de forma específica para cada local onde está sendo realizado o controle e deve se adaptar às condições básicas da indústria onde se estará realizando o controle de pragas. No caso das indústrias farmacêuticas existem maiores dificuldades que as demais indústrias pela restrição dos locais a serem tratados (grande parte dos locais o acesso é proibido), portanto os cuidados são muito maiores, visto que os produtos usados como matéria prima possuem um grau de pureza muito alto e não podem ser contaminados nem pelas pragas e muito menos pelos produtos químicos usados para controlá-las. É um trabalho onde a integração entre a empresa de controle de pragas e a indústria farmacêutica deve ser intensa visando que os serviços necessários para o controle das pragas interfiram o mínimo possível nas atividades normais da indústria buscando dessa forma uma sintonia condizente com o prestígio da indústria e produtos por ela produzidos.

Quais são os ambientes em que os produtos químicos não podem ser aplicados dentro da indústria farmacêutica?

O uso de produtos químicos é muito limitado em uma indústria farmacêutica e só deve ser usado em condições excepcionais, quando todos os outros métodos usados não estejam apresentando resultados positivos. Não se deve aplicar produtos químicos nos locais de produção e nos locais de estoque de matéria prima. Se em último caso este tipo de trabalho for necessário deve-se usar produtos altamente seguros e aplicados com muito cuidado, tais como as formulações em gel. Nunca pulverizar qualquer produto pesticida nestes locais.

Quais as características de um programa de monitoramento e manutenção?

As técnicas adotadas no controle integrado de pragas dependerão de uma série de variáveis normalmente identificadas quando da realização do diagnóstico do problema. A partir do diagnóstico são adotadas medidas preventivas e medidas corretivas, que são constantemente avaliadas através de monitoramento que deve ser no mínimo mensal. Também são feitos treinamentos do pessoal da indústria visando instruí-los sobre boas práticas operacionais.

O que deve ser ressaltado é que com essa técnica o uso de produtos praguicidas mesmo apresentando baixa toxicidade é realizado como último recurso para controlar a praga em foco.

Geralmente quando estes animais passam a ser problema, isto é, passam a ser pragas, é simples diagnosticar nas inspeções de monitoramento e através das informações coletadas com os funcionários da indústria. Porém, é muito importante que o controle  seja realizado de forma preventiva e executado por empresas especializadas em controle de vetores e pragas.

Estas empresas possuem técnicos especialistas que irão monitorar periodicamente os diversos setores do estabelecimento visando estabelecer, através destas informações, as estratégias de controle mais adequadas ao local e a infestação observada, sempre procurando usar técnicas onde o uso de inseticida é apenas um dos recursos a serem adotados.

Em indústrias farmacêuticas, as pragas são atraídas por quais fatores?

As indústrias farmacêuticas normalmente são locais muito limpos, porem se não houver cuidado também podem se tornar ambientes propícios para o aparecimento de pragas, desde que ocorram falhas no sistema de prevenção. Por exemplo: coleta de lixo adequada, limpeza eficiente, boa estrutura do prédio, iluminação, boa manutenção do local, bom armazenamento e transporte de produtos, condições de contorno onde o prédio está localizado, controle realizado por empresas não capacitadas  etc.

A prevenção de pragas é na maioria das vezes simples. Medidas como higiene e limpeza, apesar de óbvio, são muito importantes para minimizar os problemas.

Medidas de Boas Práticas Operacionais devem estabelecer controles em pontos críticos como: entrada e armazenamento dos materiais, sejam eles matérias primas, alimentos ou qualquer outro produto usado na indústria. Sempre manter o sistema de manutenção  e  limpeza dos aparelhos sob controle, e muito cuidado deve ser tomado no armazenamento e coleta de lixo. A limpeza eficiente e boa manutenção do imóvel como: vedação dos interruptores, janelas, portas, forros, telhados e frestas etc.

Além de tudo isso, é muito importante ter um controle de pragas realizado por empresas licenciadas pela Vigilância Sanitária e que execute de forma adequada e eficiente o Controle Integrado de Pragas.

Quais as áreas críticas para controle de pragas na indústria farmacêutica e quais as sugestões para evitar as pragas nestas áreas?

As técnicas adotadas no controle integrado de pragas dependerá de uma série de variáveis normalmente identificadas quando da realização do diagnóstico do problema e nesta etapa são determinadas as áreas críticas e semi-criticas. A partir deste diagnóstico são adotadas medidas preventivas e medidas corretivas, que são constantemente avaliadas através de monitoramento. Também, são feitos treinamentos do pessoal da indústria visando instruí-los sobre boas práticas operacionais.

O que deve ser ressaltado é que com essa técnica o uso de produtos praguicidas mesmo apresentando baixa toxicidade é realizado como último recurso para controlar a praga em foco.

O principal cuidado é a manutenção das suas condições de contorno do imóvel sob total controle, evitando que haja a mínima possibilidade de que qualquer praga possa entrar no local. É um trabalho de prevenção que deve ser estabelecido com muito cuidado principalmente no que diz respeito à forma como o prédio foi construído, ao “lay out” do local, ao fluxo de atividades e, às vezes, é preciso até verificar a forma como o local está sendo iluminado. Todos os cuidados devem ser tomados para que não ocorra a possibilidade de entrada de pragas no ambiente.

As áreas de quarentena, de produção, laboratórios de controle de qualidade. laboratórios de esterilização e áreas de alimentação correspondem às áreas mais críticas e/ou semi-críticas, que demandam uma observação criteriosa das vias onde as pragas podem acessar. Essas vias podem ser: frestas em portas e janelas, frestas embaixo das bancadas, ralos não sifonados, frestas em azulejos, entre outras. Através da vedação dessas frestas e cuidados na higienização e manutenção dos equipamentos  desses locais, um controle efetivo da invasão das pragas será alcançado.

Quais as barreiras físicas, armadilhas e agentes químicos devem ser utilizados?

Telas em janelas, vedação de frestas em paredes, azulejos, forros, regiões de tomadas, cortinas especiais, cortinas de ar são as barreiras físicas mais comuns a serem utilizadas para prevenção da entrada de pragas nesses locais. Podem ser utilizadas também placas de cola para captura de roedores, devidamente condicionadas em túneis protetores. O uso de géis inseticidas para controle de formigas e baratas também pode ser usado como um meio bastante seguro de controle de infestações.

O que há de normas sobre o assunto?

Existe a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 17, de 16 de abril de 2010, do Ministério da Saúde (ANVISA), que dispõe sobre as Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos. No capítulo XII (Instalações), Seção I, artigo 110, descreve em parágrafo único: “Deve haver um procedimento para controle de pragas e roedores”. No capítulo XV (Documentação), Seção XI (Procedimentos Operacionais Padronizados – POP), deve haver um procedimento quanto ao controle de pragas.

Para as áreas de alimentação dentro das indústrias (cozinhas, lanchonetes, refeitórios) existe a RDC nº 216, do Ministério da Saúde (ANVISA), que dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas Para Serviços de Alimentação. No item 4 (Edificação, Instalações, Equipamentos) existe o item 4.3 (Controle Integrado de Vetores e Pragas Urbanas), que especifica a obrigatoriedade de um controle de pragas, quando as medidas de prevenção adotadas não forem eficazes.

Para a contratação de uma empresa de controle de pragas, existe a RDC nº 52, que dispõe do funcionamento de empresas especializadas na prestação de serviços de controle de vetores e pragas urbanas.

Para finalizar, é importante observar algumas informações básicas para a contratação consciente de um serviço de Controle de Pragas Urbanas:

  • Peça orientação para pessoas do seu círculo de amizade ou consulte órgãos públicos ligados a esta área para conseguir indicações de empresas especializadas e sérias.
  • Consultar o Procom
  • Exigir a apresentação do alvará de funcionamento expedido pela Centro de

Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde;

  • Exigir o registro da empresa a um dos Conselho Regionais (CREA, CRB, CRMV, CRF, CRQ etc) a que a empresa estiver registrada.
  • Dar preferência a empresas com Técnico Responsável que tenha nível universitário.
  • Desconfie de anúncios que ofereçam vantagens excepcionais, uma vez que pode ser propaganda enganosa. Por exemplo, tratamento com produtos botânicos, tratamento em hospitais com o cliente no quarto, produtos antialérgicos, etc.
  • Preste atenção no valor dos orçamentos cotados. Os preços baixos nem sempre são indicadores de melhores serviços. E um serviço mal executado pode causar danos irreparáveis à sua saúde,  ao seu imóvel ou à sua marca e, neste caso, o custo final sairá muito mais caro.
  • Obter informações seguras sobre os inseticidas usados, toxidade, tempo fora do local especialmente, para pessoas alérgicas e crianças;

One thought on “Entrevista: biólogo fala sobre o controle de pragas nas indústrias

  • Chrys Castro

    Texto muito claro e conciso.
    Parabéns ao Dr. Francisco Andrade.

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