Produtividade versus Qualidade: existe mesmo essa disputa?
Uma das coisas mais intrigantes e ao mesmo tempo fascinantes que me deparo em minha vida profissional é este trade off entre qualidade, produtividade, custos e prazos.
Quase sempre que a área de engenharia industrial ou de processos (existe esta área na sua empresa?) apresenta um projeto propondo uma melhoria significativa na maneira de operar, imediatamente vem uma reação contrária que tal situação afeta e muito os requerimentos básico de boas práticas, o que não necessariamente é verdade. Um pouco pior quando a Garantia da Qualidade apresenta um novo requerimento e pela reação dos envolvidos a empresa irá à falência em algumas horas pela redução drástica da capacidade de produção ou pelo brutal aumento no prazo de produção.
Sempre difícil conciliar em algo tangível estes vetores aparentemente tão distintos, como equilibrá-los, ou melhor, fazer com que um impulsione o outro em busca da melhor produtividade se constitui em uma tarefa que exige fundamentalmente grande conhecimento técnico e constância de propósito, além de um senso de urgência incomum.
Falando assim parece que é algo impossível de se atingir mas não é não de maneira alguma. Uma métrica fundamental muito falada mas pouco compreendida é o OEE (Overall Equipment Effectiveness) que dá uma visão clara do que se passa na fábrica ou em quaisquer atividades produtivas nos aspectos de qualidade, produtividade e nível de serviço.
Falando nisso, como você mede o OEE? Assim:
Calma, não tire conclusões apressadas pois não estou vendendo softwares de medição. Existem muitos no mercado que prometem uma solução mágica para o incremento de produtividade sem que os envolvidos entendam corretamente o conceito.
Você se surpreenderia se te contasse que as primeiras medições do OEE apontam um valor em geral entre 15 e 20 %.? E por que acontece isto ?
Bem , rapidamente o OEE é calculado pelo produto de 3 índices:
ID : que indica a disponibilidade do equipamento
IP: que indica a performance do equipamento
IQ : que indica a qualidade do que esta sendo produzido.
Em poucas palavras você pode simplificar dizendo que:
Disponibilidade : quanto seu equipamento trabalha
Performance : quando esta trabalhando ele atende a velocidade / padrão estabelecidos
Qualidade: quanto esta aprovado do que é produzido.
E aí começam os problemas pois em uma empresa farmacêutica é assumido que o IQ é 100 % devido todos os processos estarem validados (será), o IP é difícil de calcular (uma inverdade), então assumimos 5 % de perda e o ID é basicamente manutenção e troca de produtos.
Logo se chega a uma conclusão que o OEE é sempre maior que 80% e a planta tem a melhor produtividade de todas as fábricas do grupo.
O primeiro equívoco é justamente apenas se preocupar com as paradas, pois normalmente quando não medido o IP está ao redor de 60 %. E mesmo com a preocupação com as paradas muitas vezes não são medidas corretamente as trocas de P|VC e Alumínio em uma máquina para emblistar (que nome horrível) comprimidos. Existem situações em que se perde uma hora por dia e isto não é considerado.
Normalmente o IP é afetado pela fixação equivocada da velocidade nominal do equipamente para determinado produto, redução desta velocidade ao longo do tempo para acomodar certos falhas mecânicas ou elétricas, pois normalmente se ajeita e não se corrige o problema ,, a tal desculpa infundada de que não podemos parar e assim o prejuízo é muito maior, falta de supervisão e pro que não dizer gerenciamento adequados, equipes de operação com parcos conhecimentos do equipamento, etc.
Bem, acho por hoje é só, visto que no próximo artigo estarei detalhando este famoso IP. Espero que possa ter instigado algumas boas reflexões.
Sobre o autor:
Executivo com larga experiência na área de operações e Supply Chain em empresas de grande porte como Pfizer, Novartis, AstraZeneca e Wyeth, responsável por turnarounds, projetos de expansão, fusão de plantas, modernização e adequação aos mais exigentes requerimentos de Qualidade com foco em máximo atendimento às necessidades de mercado com reconhecimento local e internacional. Formado em Engenharia de Produção, Ivan Milano atua como palestrante e participou de diversos cursos de desenvolvimento no Brasil e Estados Unidos , Canadá, América Latina, Europa e Ásia, além de vivência internacional de 5 anos no México. Atualmente sócio-diretor da Maverick, Consulting, especializada em life sciences.
Bom dia Ivan,
Quando se trata de determinar o cálculo de OEE eu vejo diversas pessoas (me incluo nesta) terem dúvidas com relação a disponibilidade do equipamento.
Em geral os equipamentos estão disponíveis 24 horas por dia, porém se seguirmos desta forma teremos um OEE sempre abaixo do esperado, pois estaríamos perdendo as horas não trabalhadas como troca de turno, turnos não trabalhados, horário de café, refeições…
Sendo assim, qual é a forma correta de se calcular? Considero a disponibilidade 24h ou calculo qual é a quantidade de horas que em eu disponibilizo recursos para que o equipamento funcione?